Tranquilizante ou estimulante, para tomar sozinho ou curtir em boa companhia, o chá e seus rituais vem ganhando mais espaço no dia a dia dos brasileiros e enchendo a mesa de alegria, bem-estar e encanto. Descoberto há quase 5 mil anos, o chá é a bebida mais consumida no mundo e só na China existem mais de 10 mil variedades.
O chá simboliza a hospitalidade, a amizade e a gentileza. Ele é bebido em todos os continentes, claro que em cada lugar de uma maneira diferente com seus rituais peculiares, que expressam os costumes baseados em elementos culturais e históricos de cada região.
O chá já esteve na origem de muitas questões políticas e comerciais. Ele chegou ao Ocidente através de embarcações chinesas no início do século XVII, mas apenas por volta de 1650 começou a se tornar mais conhecido na Inglaterra, sendo ressaltado o seu valor medicinal. “Ele mantém o palácio da alma sereno” – escreveu um poeta inglês da época. Um século depois, Londres tornou-se o maior entreposto de chá e café do mundo. Mais de 80% desses produtos eram reexportados para o resto da Europa. Para beneficiar a florescente indústria do chá, as autoridades aumentaram a taxa de importação do café – então muito popular no país – e o consumo do chá tornou-se dominante, a ponto de se converter numa característica nacional dos ingleses.
O chá simboliza a hospitalidade,
a amizade e a gentileza
Costumamos confundir chás com infusões de plantas, ervas e até frutas. No entanto, o chá é uma bebida que pode ser servida quente ou fria, feita a partir de uma única planta: a camellia sinensis. Outros preparos feitos a partir de ervas frescas da horta, pela mãe ou pela avó, como cidreira, capim limão, melissa, camomila ou de especiarias, são chamados de infusões pelos especialistas.
Da camellia sinensis, que é originária da China, são obtidas milhares de variedades de chás que se modificam conforme o tipo de cultivo, nível de fermentação, coleta, preparo e armazenamento das folhas.
Devido aos altos valores de exportação para o Ocidente, o chá em saquinhos ainda representa a maior forma de consumo entre nós. Por influência dos americanos, há anos os chás vêm sendo vendidos de forma industrializada, processo em que se armazenam as folhas trituradas prontas para infusão em saquinhos de tecido fino. A praticidade, o custo baixo e a facilidade de ser encontrado fazem com que o chá de saquinho seja uma opção mais atrativa para o consumidor.
Para a sommelier de chá e idealizadora da marca Tea Road, Tânia Rampi, as infusões em saquinhos que temos no Brasil, a exemplo da camomila, capim santo e erva-cidreira são ervas que, se bem colhidas e desidratadas, mantêm seus benefícios. Há que considerar, porém, que durante o envasamento em sachês, a umidade da erva é removida totalmente, e ao passarem pelo processo de moagem as folhas são tão picadas e oxidadas que acabam por perder o seu óleo essencial.
Conheça algumas variedades
- Chá verde
É o mais ancestral de todos. Para o seu preparo as folhas devem ser secas imediatamente após a colheita, evitando qualquer risco de fermentação. Seu sabor é suave e o espectro de aromas presentes na família dos chás verdes costuma transitar pelo vegetal e o marinho, podendo trazer aspectos florais, frutados e de castanhas. - Chá oolong
É um dos chás mais complexos, devido a sua variação de oxidação. Apresenta uma fermentação mediana, ficando entre o verde e o preto. Seu sabor também é intermediário entre os dois estilos. Quando pouco oxidado, suas notas ficam próximas ao chá verde, porém quando o sabor estiver mais encorpado, apresenta mais oxidação e características parecidas com os chás pretos. São muito aromáticos e de textura sedosa.
- Chá preto
É feito com as folhas mais velhas e passa por um processo de fermentação maior. Por isso, ele possui ação antioxidante bem menor do que dos outros e mais cafeína, o que deixa o seu sabor mais intenso. - Chá branco
A China nos fornece os mais belos chás brancos do mundo, outrora reservados apenas ao Imperador. Eles procedem do primeiro broto do chazeiro, a parte mais nobre da planta, colhido antes de as flores se abrirem. Após serem expostos ao sol para secagem, adquirem uma belíssima tonalidade prateada. A planta não passa por fermentação e por isso conta com a ação antioxidante mais forte e menor quantidade de cafeína. São chás mais delicados, de baixa adstringência e sem amargor, com um sabor mais doce e floral à degustação. Além disso, contêm L-teanina, uma substância que favorece a produção de hormônios de prazer e bem-estar.
- Chá amarelo
É um derivado do chá verde muito raro, pois poucos mestres dominam sua arte de produção. As folhas do chá verde são colocadas ao sol de forma muito peculiar para serem levemente fermentadas. Este tratamento das folhas lhe dá um tom mais amarelado e um sabor mais adocicado, sendo também mais leve se comparado com os verdes.
- Puer
Faz parte da família de chás pós-fermentados, é compactado e envelhecido por pelo menos alguns anos antes de ser consumido, o que lhe confere um sabor mineral característico. Com o envelhecimento adequado, a adstringência e o amargor desaparecem gradualmente e o chá fica mais suave e desenvolve equilíbrio e sutileza no sabor. Sua classe de aromas pode trafegar por madeira úmida, cera, mel e caramelo. - Matcha
É o broto do chá verde em sua maior concentração, em pó ou moído. Trata-se do mais popular dos chás verdes do Japão, apesar de originário da China. Com um gosto mais forte do que o do chá verde tradicional, ele tem o poder de acalmar a mente, além de apresentar inúmeros outros benefícios para a saúde e o bem-estar, pois tem uma maior concentração de cafeína, L-teanina e clorofila, fornecendo antioxidantes poderosos para o organismo. Para consumi-lo é necessário batê-lo com água. Mas o matcha não se restringe apenas a uma bebida. Como é comercializado em pó, está sendo muito utilizado no preparo de smoothies, bolos, pudins, mousses, bolachinhas, sorvetes, iogurtes, sucos, pães e molhos. - Dica
Para deixar o sabor do chá mais leve, pode-se adicionar canela ou raspas de gengibre para suavizar o sabor e potencializar suas propriedades anti-inflamatórias. - O que mais é preciso levar em conta?
Além dessas variações, Tânia Rampi explica que o terroir da região de cultivo, a forma de cultivo, a época da colheita e a forma de processamento influenciam muito nas características da bebida na xícara. China, Japão, Índia, Sirilanka, Kenia, cada país terá chás de safras e colheitas muito especiais e características. “Por exemplo, os chás pretos de primeira colheita – o chá de Darjeeling – da região da Índia, chamada de ‘Champagne dos Chás’, trazem notas aromáticas que lembram uva moscatel, mas também podem apresentar aromas vegetais delicados, como musgo ou menta, com toques frutados e cítricos. Porém, o mesmo chá, de um mesmo jardim, desenvolve gosto e aroma diferentes dependendo da época em que é colhido”, complementa a sommelier.