Sua presença é o pó de pírilimpimpim que ilumina a cozinha, que enfeitiça as crianças e inspira os que caminham a seu lado. Os filhos e Marcelo Schambeck que o digam. A jornalista, empreendedora, mãe, companheira e cozinheira experimental Flavia Mu tem nome, o timbre suave e os movimentos de fada, com todos os encantos da fantasia e surpresas do mundo real. Entre as muitas habilidades — e atividades —, ela comanda a cantina BananaMaçã, na Escola Projeto, em Porto Alegre, criada por ela e o marido, chef de cozinha, para levar aos pequenos a cultura da alimentação caseira e natural e os sabores da comida de verdade que a cozinha brasileira oferece.
É assim: arroz e feijão tem todo dia. Os feijões variam: carioca, vermelho, o jalo, as lentilhas; o arroz, às vezes integral, às vezes o branco. Uma proteína, legumes e verduras, buscas por orgânicos, produtores locais. Nos lanches, da manhã e da tarde, frutas, pães, biscoitos e bolos, geleias — tudo feito no lugar, dentro do objetivo de evitar ao máximo os ultraprocessados. Refeições e lanches podem ser adquiridos embalados (em descartáveis biodegradáveis) para levar para casa. “A criançada da escola tem oportunidade de ampliar o repertório do paladar”, conta Flávia. São 200 alunos entre a Educação Infantil até o 5º ano do Fundamental e cerca de 60 almoços diariamente. À mesa, as crianças se servem das porções, experimentando a convivência, as escolhas, a diversidade de sabores e descobrindo o próprio gosto.
A BananaMaçã existe há um ano e o plano é expandir o serviço para mais escolas. A cantina é o novo empreendimento do casal Flavia e Marcelo, que divide os negócios de gastronomia também no premiado restaurante Capincho, onde está presente mais um sócio, o mixologista Fred Muller. Flávia atua como responsável pelo treinamento de equipe de salão e Hospitalidade, buscando oferecer a melhor experiência ao cliente em todas as casas do grupo. É a combinação de seu talento, o trato cordial e humano mais a prática dos negócios que a tornam fundamental – e tão especial — para o sucesso de seus businesses de alimentação. “Implantamos uma cultura de Hospitalidade racional, baseada no discurso claro e no diálogo, que leva à percepção do cliente no atendimento”, ela explica, descrevendo o método próprio de gestão de equipes, consolidado na empatia e confiança.
Na cantina, Flávia está presente diariamente. Ela faz as compras, coordena a equipe de cozinheiros, profissionais que atuam ou já atuaram também no restaurante, e com eles define o cardápio. Trabalhando para as crianças, em contato direto com elas, carrega aprendizados para o trabalho com os adultos e vice-versa, estabelecendo uma troca rica de experiências.
Raul (12 anos) aparece na porta da cantina para buscar o irmão mais novo nessa hora da entrevista, que aconteceu logo após o almoço. Abraça a fada e confessa saudoso que quer levar uma marmitinha para comer em casa, vindo da nova escola, dos maiores, ainda sem comer. Vai até a vitrine e retira o seu almoço. Flavia conta que foi ele quem cunhou a sentença lapidar, quando era menor e experimentou chuchu: “Até que está bom, para um chuchu”… A frase de milhões revela o sucesso da empreitada: “Importante é experimentar”, resume Flavia.