Presença quase que obrigatória às mesas de Ano-Novo, devido à crença de que ao guardar as sementes é possível atrair boas energias para os tempos que estão por vir, a romã, in natura ou como melaço, é versátil e pode compor receitas salgadas e doces em qualquer época do ano.
Ao longo da História, a fruta, com suas bagas cor de rubi, se tornou um símbolo de fertilidade, amor e proteção. Muitos povos acreditam que ela está relacionada à fartura e à prosperidade por ser composta por centenas de sementes em seu interior. “Coma romã para se livrar da inveja e do ódio”, era o que dizia o profeta Maomé, conta Roberta Malta Saldanha, no livro Histórias, Lendas e Curiosidade da Gastronomia.
Originária do Oriente Médio e posteriormente cultivada na Ásia Central, a romã foi ganhando seu espaço no mundo devido a seus inúmeros benefícios para a saúde e a todo seu simbolismo e tradição. Aqui no Brasil, ela chegou pelas mãos dos portugueses e, junto com a fruta, a tal superstição, ainda seguida por muitos: comer sete gomos da fruta e guardar seus caroços para ter sorte e ganhar muito dinheiro durante todo o ano. Se bem que esse costume, com praticamente a mesma finalidade, é bem semelhante ao dos judeus de origem ocidental, com a diferença de que as sementes são colocadas embaixo do travesseiro na passagem do Ano Novo Judaico.
Crenças à parte, a gastronomia tem desenvolvido inúmeras receitas com a romã, devido ao lindo colorido de suas bagas e ao sabor ácido e levemente adocicado possível de ser obtido como melaço.
“Coma romã para se livrar da inveja e do ódio”, era o que dizia o profeta Maomé
Dicas
- Nativa da Pérsia e domesticada no Irã há cerca de 2.000 anos a.C. (antes de Cristo), a romã despertou o interesse no Mediterrâneo, de onde foi distribuída a outros países, da Ásia às Américas.
- A Espanha é um dos mais importantes países produtores do mundo e o maior produtor e exportador do mercado comum europeu.
- Na Espanha, romã é granada. A arma granada tem esse nome devido a parecer com a polpa e as sementes de romã.
- Em inglês é chamada de pomegranate. A origem do nome vem do latim. Pomum significa maçã e granatus, com sementes, devido ao formato de maçã e às centenas de sementes que preenchem o fruto.
- Em hebraico, romã é rimon, que significa sino, pelo seu formato.
- As sementes secas da romã eram usadas como condimento pelos antigos, e o seu suco, como remédio até o Renascimento.
- A fruta é cultivada em muitos países tropicais, no Líbano, no Paquistão e na Índia, entre outros.
Crenças
- Na Turquia, a noiva, após a cerimônia do casamento, atira violentamente uma romã no chão. Se não rebentar seria sinal de que não teria filhos. Rebentando, teria tantos quantas fossem as sementes que dela caíssem ao solo.
- Na Bíblia, é citada 11 vezes no Antigo Testamento, mas omitida no Novo Testamento.
- No Egito Antigo, a romã foi desenhada em túmulos de faraós e utilizada em rituais religiosos.
- No Brasil, a tradição mais conhecida sobre a romã veio com a cultura portuguesa. Segundo a crença popular, ela deve estar presente na mesa no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, quando é celebrada a visita dos três reis magos ao presépio onde Jesus Cristo nasceu. A romã representa os presentes dados a Jesus para exaltar sua vinda à Terra.
- Para os judeus, a romã também possui um papel de destaque no Rosh Hashaná, Ano Novo judaico, por ser um símbolo de prosperidade e justiça. Segundo o judaísmo, cada romã possui 613 sementes, que correspondem às 613 mitsvot, que são preceitos da Torá.
- Para os povos antigos, como os gregos, os romanos e os persas, havia a concepção de que a romã era a ponte entre a mortalidade e a imortalidade. O homem apaixonado que comesse a romã se tornaria imortal. Já um deus que a consumisse se transformaria em um mortal.
- A fruta era tida como símbolo de amor e fertilidade por causa de suas numerosas sementes.
- A romã, que há quem ache sem graça e difícil de ser comida, sempre foi respeitada pelos poderosos. Reis e bispos tinham a fruta bordada em suas vestes.
Na cozinha
- A fruta fresca tem 32 calorias por 100 g e é muito rica em fósforo.
- O suco da romã fresca pode compor um drink sem álcool ou ser combinado com gin e alecrim.
- Os bagos da romã, por sua cor rubi, são muito utilizados na decoração de sobremesas.
- No Oriente Médio, a romã está presente no preparo de peixes, bolinhos de carne e saladas, sucos e licores.
- O melaço é utilizado no preparo do Fesenjoon, prato persa, uma espécie de ensopado de pato ou frango em molho de romã e nozes.
- Muito aromático, uma mistura de sabores ácido e adocicado, é perfeito para enfeitar sobremesas e sorvetes.
- Na aparência, o melaço de romã lembra muito o de cana. Entretanto, é doce e azedinho, provoca a salivação imediata e a vontade de experimentar mais. Vai bem com carnes, legumes, doces, bebidas.
- O melaço também é muito bom em vinagretes.
- Faz boa parceria com legumes cozidos, como espinafre, abobrinha e berinjela.
- Há quem garanta que o auge da sensação é experimentar uma pequeníssima dose de vinagrete de melaço combinado com alho, cubinhos de tomate, limão, sal e pimenta-do-reino, servido sobre ostras frescas.
- Em assados e grelhados, a manteiga misturada com o melaço dá um toque especial e muito sabor.
- No Oriente Médio, o melaço é usado em marinadas e molhos.
- A salada árabe Fatuche tem pão pita, rabanete, legumes e molho com melaço.
- A salada judaica Bazargan tem como ingrediente o burgol para kibe.
Ao longo da História, a fruta
se tornou um símbolo de
fertilidade, amor e proteção
Na mitologia
- Na mitologia grega, a romã se tornou um dos símbolos da deusa Afrodite, devido aos seus poderes afrodisíacos.
- Também na mitologia grega, Perséfone, filha de Deméter e deusa da terra e da colheita, foi levada para o inferno por Hades, deus das profundezas. Jurou não comer nada no cativeiro. Mas não resistiu a uma romã. Comeu seis sementes. Quando Hades afinal perdeu Perséfone para Deméter, teve a permissão de ficar com ela por seis meses de cada ano por causa das sementes. Esses seis meses se tornaram o inverno.
- Na mitologia iraniana, o fruto desejado da árvore sagrada é a romã. E não a maçã, como foi difundido pela cultura ocidental.
- Na versão hebraica, há o Jardim do Éden e a serpente. Na versão greco-romana, há o Jardim das Hespérides e o dragão Ladon. No mito iraniano, o fruto desejado da árvore sagrada é a romã.
Uso terapêutico
Pesquisadores apontam muitos benefícios com o consumo da romã. Não apenas das bagas da fruta, mas também da casca e das sementes.
- As sementes secas da romã eram usadas como condimento pelos antigos, e o seu suco, como remédio, até o Renascimento.
- Usado na medicina popular, o chá de sua casca costuma ser indicado para o alívio de inflamações, em especial nas regiões da garganta e gengiva.
- Por ser rica em sais minerais como fósforo, potássio, sódio e cálcio, também é uma grande aliada no combate a cólicas e males intestinais.
- Muito utilizada na Antiguidade como fonte de juventude, seu poder de antienvelhecimento é explicado pela ciência, que comprova o alto teor de antioxidantes que atuam favorecendo a vitalidade da pele, cabelo e unhas.
- Pesquisas indicam que consumir romã pode ajudar a prevenir doenças degenerativas como o Alzheimer e até mesmo alguns tipos de câncer, como o da próstata e o da mama.
- No Reino Unido, é fundamentalmente consumida in natura, especialmente nas zonas de mineração da Inglaterra, devido às propriedades benéficas frente à contaminação de metais pesados.
- Rica em compostos que exercem ações anti-inflamatórias e antioxidantes, a fruta auxilia na elevação dos níveis de HDL, o colesterol bom no sangue. Colabora ainda na diminuição dos níveis de triglicerídeos, facilita a circulação do sangue e ajuda na prevenção da pressão alta.
- A ação da vitamina C e dos antioxidantes encontrados na romã ajuda a equilibrar a flora intestinal, uma vez que inibem o crescimento de bactérias ruins e aumentam o número de bactérias boas no intestino.