Tudo começou quando o tibetano Ogyen Shak, artista plástico e mestre em artes sacras, veio pintar e ornamentar o templo budista Chagdud Gompa Khadro Lin, em Três Coroas, e conheceu a gaúcha Adriana, a Drika. Nascia ali o Tashiling, o primeiro restaurante tibetano no Brasil, que, com o passar do tempo, ganhou um espaço maior e um novo nome: Espaço Tibet.
Ogyen nasceu em Derge, no Tibet, de onde fugiu da ocupação chinesa, aos 16 anos, junto com 30 outros refugiados, em busca de liberdade. Foram 2 meses e 100k m pela neve, a pé, em direção à Índia, até ser resgatado por um grupo humanitário no Nepal. Permaneceu na Índia até 2006, onde obteve sua formação em pintura e arte sacra, que o trouxeram ao Brasil para pintar e ornamentar o templo budista Odsal Ling, em Cotia, interior de São Paulo. A mesma arte que o conduziu ao templo de Três Coroas, onde conheceu a futura esposa, Drika, que atuava como voluntária no templo. Os dois se casaram em 2010, evitando assim que Goyen fosse deportado.
A experiência na cozinha, adquirida desde criança com uma tia materna, o levou a cozinhar nos monastérios em que morava ou trabalhava como artista plástico, na Índia. Ao decidir se estabelecer no Rio Grande do Sul optou por usar esses dotes culinários de forma profissional, surgindo assim o primeiro restaurante tibetano no Brasil, na cidade gaúcha. Em um ambiente com muita cor, com predominância do vermelho, estátuas de deuses budistas, músicas tibetanas, bandeirinhas de mantras, é oferecida uma comida que mescla tradição, história e cultura.
Surpresas deliciosas
Se existe recomendação para quem desejar conhecer a cultura gastronômica do Tibet é “seja ousado e experimente o inimaginável”. Com um cardápio à la carte e também com experiências harmonizadas, a cozinha do chef Ogyen certamente vai surpreender. A começar pelos drinks, seja o coquetel de rosas com espumante rosé ou a inusitada caipirinha de alho negro.
As entradas apresentam os momos, tradicionais trouxinhas tibetanas, cozidas no vapor e salteadas na manteiga, com recheios de sha (carne), alú (batata), ngotsé (legumes) e shimeji, em diferentes molhos. Os pratos principais são adaptações os ingredientes brasileiros, uma vez que no Tibet a carne costuma ser de iaque (herbívoro de pelagem curta presente no Himalaia).
Vale conferir o Ra Sha (pernil de cordeiro, preparado com molho de cravo ou anis-estrelado, vinho tinto e açúcar mascavo, acompanhado de batatas seladas na manteiga, arroz branco com gergelim preto e castanha-de-caju e cenoura caramelada) ou o Póksha Tsé (barriga de porco com molho à base de iogurte e especiarias, servida em cestinha de repolho roxo, acompanhada com arroz à moda tibetana e chips de batata).
Talvez a mais ousada de todas as receitas esteja no final, para encerrar a refeição: a Sobremesa do Chef, que combina cogumelos shimeji caramelizados em açúcar, cachaça e shoyo, servidos quentes sobre sorvete de creme e finalizados com chips de batata, ganache e gergelim branco.
O chef Ogyen acredita que conhecer e experienciar novas culturas expande a visão, ao mesmo tempo que faz apreciar as peculiaridades da própria cultura.