Comemoração. Essa talvez seja a palavra que melhor define os espumantes. O ato de verter o líquido na taça e erguer um brinde reforça o simbolismo da alegria. Com o estouro ou não da rolha, é quase impossível imaginar um momento festivo sem a presença de um espumante. Ele é o ícone da felicidade. Esta é a hora de voltar a comemorar a vida, depois de tempos tão difíceis. As boas perspectivas de um novo ano, o brilho do sol típico do verão, a praia, a piscina, o reencontro com os amigos e os amores. Sempre é hora de brindar.
Se no passado a bebida se fazia presente quase que exclusivamente em datas comemorativas muito especiais, com o passar do tempo foi conquistando mais espaço. Garantiu lugar nas geladeiras, ganhou as mesas de bares, preencheu as taças em encontros de amigos. Muitos motivos há para que o espumante, principalmente o nacional, obtenha tamanha aceitação. “Os espumantes brasileiros têm altíssima qualidade. São muito frescos, fáceis de beber, com acidez equilibrada e reconhecidos internacionalmente”, avalia Alejandro Cardozo. E olha que ele entende e muito do assunto. É responsável pelo processo de vinificação de inúmeras vinícolas no Brasil, Chile e Argentina e foi eleito o enólogo do ano de 2021 pela Associação Brasileira de Enologia.
Muitas das conquistas da bebida, no entanto, estão associadas às mulheres. Foram e são elas as responsáveis pela expansão do mercado de espumantes, no Brasil e no mundo. “Muitos homens tinham, e outros ainda têm, preconceito em relação aos espumantes. Acreditam que colocariam a masculinidade em dúvida ao optarem tomar uma taça da bebida, em um bar ou restaurante. E se o fizeram foi para acompanhar namoradas, esposas ou ficantes.” Depois dos primeiros goles, impossível resistir. Nada como uma taça da bebida borbulhante como aperitivo, para acompanhar petiscos ou mesmo toda a refeição.
O ato de erguer a taça para um brinde reforça o simbolismo de alegria vinculado a esta bebida
Adolfo Lona, um dos enólogos responsáveis pelos primeiros cursos de degustação de vinhos e espumantes no Brasil, concorda com Alejandro. “A maioria dos homens começou a tomar espumantes, fora das comemorações de final de ano, para acompanhar suas parceiras. Literalmente, tomaram gosto e adotaram a bebida, deixando de lado o preconceito.”
Ainda hoje são as mulheres as maiores consumidoras das borbulhas. Elas se apropriaram das mesas dos bares com suas taças, muitas vezes para encontros exclusivamente femininos. Bate-papos no final da tarde, regados a Moscatel ou a um Rosé, viraram cotidiano, principalmente com o crescente número de vacinadas.
E se você torceu o nariz ao ler a palavra Moscatel, saiba que esse é outro preconceito que precisa ser vencido. E de uma maneira bem simples: levando a taça à boca. A indústria vinícola brasileira soube acompanhar a evolução do mundo do vinho e o desejo dos consumidores. Os Moscatéis atuais são menos doces, mais frescos e com uma acidez cativante. Bem gelados, são a companhia perfeita para o entorno da piscina ou à beira-mar.
A região de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, conquistou, com a excelência de seus produtos, a Indicação de Procedência para os Moscatéis. Em degustações às cegas, os espumantes da região recebem cada vez pontuações mais altas. Há quem os considere um dos melhores produtos da indústria vinícola brasileira.
Da mesma forma, Pinto Bandeira conquistou a Indicação de Procedência para seus espumantes. Os Bruts da região são considerados verdadeiras joias.
Atualmente, no entanto, não se pode falar apenas da Serra Gaúcha quando o assunto é qualidade de vinhos e espumantes. Há excelentes exemplares sendo elaborados no Nordeste, na Campanha Gaúcha, na Serra Catarinense.
Cor nas taças
É preciso dizer, no entanto, que o produto que mais tem crescido em expressão no mercado são os espumantes rosés. Novamente impulsionados pela ala feminina. Atraída não apenas pela beleza da cor, mas também pelo sabor frutado, leveza e elegância, além do fato de serem perfeitos como companhia de happy hour.
Outro estilo em ascensão é o Prosecco, mais uma vez vencendo preconceitos. O estilo começou a ser produzido em 1868, no Vêneto (Itália), com uvas Prosecco (hoje Glera). Em 2009, a legislação italiana decidiu que só os espumantes produzidos na Itália poderiam levar o nome Prosecco. Como muitos países não aderiram à norma, alguns espumantes brasileiros ainda usam o nome do estilo nos rótulos de seus produtos. Mesmo que as mulheres sejam responsáveis pelo crescimento do consumo de espumante Moscatel e Rosé, muitos homens já aderiram aos espumantes como bebida para as tardes quentes ou para curtir em torno da piscina ou à beira-mar. É preciso destacar, no entanto, que a preferência deles ainda fica com os Brut e Extra Brut. Os Nature e Sur Lie ficam mais reservados para momentos de harmonizações gastronômicas. Com o que a ala feminina concorda plenamente.
Não importa o estilo, o que vale é abrir o espumante de sua preferência, verter na taça e, principalmente neste momento, festejar a vida. Afinal, abrir um espumante já é, por si só, um ato de celebração.
A ideia é festejar a vida, pois
abrir um espumante já é, por si só,
um ato de celebração
Saiba mais
- O Brasil já faz espumantes há mais de 100 anos, desde 1913, quando foi fundada a Peterlongo.
- Champagne é uma Denominação de Origem, por isso, apenas a bebida produzida na região de Champagne, na França, e com as uvas Chardonnay, Pinor Noir e Pinot Meunier, pode utilizar esse nome nos rótulos da bebida.
- Mais de 90% dos Champagnes são produzidos no estilo Brut.
- Não é recomendável abrir um espumante com o estouro da rolha, porque além de perder parte da bebida, interfere na concentração das bolhas e no sabor.
- Sabrage é o método de abrir um espumante quebrando o gargalo das garrafas com a ajuda de um sabre.
- Cava é uma Denominação de Origem para estilo de espumantes produzidos na Espanha, com três uvas principais: Macabeo, Xarelo e Parellada.
- Lambrusco, espumante italiano, elaborado com uvas do mesmo nome. Pode ser sec, demi-sec e doce.
Com sua linda cor e sabor frutado, os rosés são os que mais têm crescido em expressão no mercado
Harmonização
A efervescência oferecida pela expressão do gás carbônico, somada à acidez geralmente presente, traz a sensação de limpeza em boca. Isso faz com que os espumantes sejam muito versáteis em harmonização, pois remetem a leveza e frescor, permitindo acompanhar pratos leves. Ao mesmo tempo, essa soma de características faz com que encarem também pratos pesados (até certo ponto) com frequente sucesso. Tornam-se curingas, não porque harmonizam com tudo, mas porque têm poucas incompatibilidades. É importante considerar que cada estilo de espumante combina melhor com diferentes pratos, das entradas às sobremesas. Confira algumas dicas.
Brut Branco Método Charmat
Os produtos desse estilo, fermentados em tanques de inox, tendem a ser leves e frutados, com notas florais e cítricas. São excelentes com entradas e aperitivos, saladas, frango grelhado, frutos do mar e risotos leves.
Brut Rosé
Costumam ser muito frutados, variando dos mais leves aos mais estruturados. Elegantes, harmonizam com camarões, lagostas, lulas e peixes de carne rosada, como salmão e atum, carne suína e carré de cordeiro. Podem acompanhar também sobremesas à base de frutas e sorvetes. Vale acompanhar ainda risoto de bacalhau e filé grelhado. Ideais para petiscos, como pastel, coxinha e pizza quatro queijos.
Brut Branco Método Tradicional
Os espumantes elaborados pelo método Champenoise (tradicional) fermentam na própria garrafa, amadurecendo com as leveduras por um período de tempo maior que o do método Charmat. Isso confere a eles notas de pão, levedura, brioche, mel e frutas secas, além de boa complexidade e estrutura no paladar. Harmonizam com carnes e aves assados, massas, cogumelos, moqueca e risotos em geral.
Nature e Extra Brut
Esses são os estilos mais secos de espumante. Geralmente são muito frescos, com grande estrutura e boa complexidade. Sua potência é mais bem harmonizada com pratos fortes, como churrascos, cozidos, massas com molhos fortes, queijos duros, leitão e bacalhau.
Sur Lie
Sobre as borras, esse estilo (que mantém a presença das leveduras, por isso, turvo) ainda está em fase de crescimento no Brasil, mas em forte expansão. É um Nature, extremamente seco, considerado um estilo para um público mais maduro, que já passou pelo Nature, Extra Brut e Brut. Supergastronômicos, harmonizam com pratos que apresentam um toque de doçura, como camarão e polvo. Mas também vão bem com cogumelos, queijos duros e salgados, porco à pururuca, embutidos, entradas, saladas, comida tailandesa e pratos picantes.
Tintos
Têm a alta acidez dos vinhos brancos e rosés mais os taninos e a adstringência dos vinhos tintos. Acompanham bem feijoada (altos níveis de sabor, de aroma, de sal, gordura e leve amargor do feijão), lasanha, cordeiro, linguiça, pizza, mocotó, filé.
Doces
Os mais tradicionais são os Moscatel. São florais, frutados e doces, muito leves e frescos. Harmonizam com sobremesas e doces em geral, sendo também utilizados em alguns coquetéis e drinks. Perfeitos para acompanhar panetone, fondue de chocolate, sobremesas com chocolate branco, bolo de casamento e salada de frutas.