A primeira vez que ouvi falar em Trancoso foi há 4 décadas, quando fazia a trilha inca no Peru. Uma paulista me falou desse paraíso na costa sul da Bahia, então ainda não desvendado, enquanto subíamos os Andes à caminho de Machu Pichu. O local a teria fascinado tanto que Cléia, a professora de história, planejava abandonar tudo em São Paulo e se mudar para lá. No meu imaginário ficou o registro de Trancoso como um desses lugares mágicos para se conhecer. Muitos anos depois, um outro amigo me convidou para conhecer a pousada dele em Trancoso. Fui conferir e, no meu último dia por lá, caminhava pela praia dos coqueiros quando vi um rosto familiar. Era a Cléia. Ela se mudou para Trancoso em 1981, abriu uma pousadinha, que depois ampliou para cinco casas no meio da mata Atlântica. Só saia de Trancoso para se perder na África ou se encontrar na Ásia. O vilarejo fundado pelos jesuítas há mais de 450 anos foi descoberto por uma tribo de descolados, como a Cléia, nos anos 1980, quando o difícil acesso reservava este paraíso remoto somente aos iniciados. Mas o segredo foi se espalhando e Trancoso acabou se tornando o destino-desejo de visitantes que buscavam a autêntica costa baiana de antigamente. Logo vários famosos construíram lá suas casas de praia, como Gal Costa e a família Marinho, hoje convertidas em pousadas boutiques integradas à natureza.
O vilarejo fundado pelos jesuítas há mais de 450 anos
foi descoberto por uma tribo de descolados nos anos 1980
O luxo da simplicidade
O coração do povoado, no alto da falésia, preserva ares do passado, com sua igrejinha branca e casinhas simples da época colonial, sombreadas por castanheiras e floridos flamboyants, em torno de um gramado que compõe o cênico “Quadrado”. O casario foi convertido em lojas bacanas, pousadas e restaurantes de charme, em cores tropicais e pasteis, onde a rusticidade e o despojamento conferem o “luxo da simplicidade”, tão característico de Trancoso. Recomendo os restaurantes Capim Santo, Silvana & Cia e El Gordo, todos no Quadrado, fechando com a Sorveteria do Beco. Este tradicional enclave hippie-chic está aos poucos abandonando seu lado hippie para assumir mais o lado chic, como me contou Patricia, uma inglesa de pés descalços que vive há 40 anos no Quadrado. Já a minha amiga Cléia intercala Trancoso com a Chapada Diamantina, onde reencontrou a tranquilidade e a autenticidade que a levaram ao vilarejo baiano.
Depois da minha estreia, voltei muitas vezes a Trancoso e, como visitante ocasional, continuo encantado com esse lugar: pequeno, mas cosmopolita, rústico e sofisticado. Além dos excelentes restaurantes, o povoado abriga o teatro L’Occitane, onde acontece o consagrado festival de Música em Trancoso, com repertório de nível internacional, sempre entre o carnaval e a Páscoa, movimentando a região.
O Quadrado é o coração do vilarejo de
Trancoso, é onde tudo acontece
Primeira viagem do ano
Escolhi Trancoso como meu primeiro destino de viagem de 2021 para começar bem o ano, envolto na energia de Iemanjá, divindade celebrada no dia 2 de fevereiro. Por estarmos ainda em período de pandemia, decidimos ficar na pousada Villas de Trancoso, à beira da praia dos Nativos. Com apenas dez vilas, a pousada naturalmente nos garantiu o isolamento recomendável. Além de sofisticação, conforto e bom atendimento.
Minha filha Elena adorou andar a cavalo nas areias entre os manguezais e o oceano, flutuar nas águas do rio da Barra e acompanhar a variação das marés – que mudava ao longo do dia a extensão de praia e o nível da agitação das águas, da tranquilidade de uma lagoa às grandes e perfeitas ondas. Aproveitei para correr na areia, nadar no mar, jogar frescobol na maré baixa e ler na rede à sombra de uma palmeira. Tudo isso combinado com um gin com tangerina e gengibre ao pôr-do-sol, e frutos do mar para o jantar sob lua cheia. Férias perfeitas!
Recomendo muito.
Mais informações sobre Trancoso e reservas em suas Pousadas de Charme
com Beto Conte pelo beto@triptravel.com.br e (51) 99314.0587