Natureza, budismo e riqueza cultural
O Sri Lanka, com apenas 66 mil km², é pequeno o suficiente e com tantos pontos de interesse que os deslocamentos são sempre relativamente curtos, o que minimiza os desgastes quando se está viajando. Principalmente se compararmos com a vizinha Índia, de dimensões continentais. Em poucas horas passa-se das montanhas do centro do país, com picos de mais de 2.000 m de altitude (que abrigaram o último reino cingalês até a queda em 1815 para os britânicos), às praias tropicais da costa. Plantações do renomado chá do Ceilão, as requisitadas especiarias que fizeram os portugueses aportarem na histórica Galle em 1505 e as terraças de arrozais e palmeiras por todo lado compõem o verdejante cenário.
As águas cristalinas oferecem corais e colorida vida marinha, para delírio dos mergulhadores, o sol sempre presente numa agradável média de 27ºC e os deliciosos frutos do mar, aliados à beleza de suas baías, colocam Hikkaduwa e Unawatuna entre as melhores praias do mundo.
Mas o Sri Lanka é muito mais que isso. Com 11 parques nacionais podemos usufruir de uma natureza intocada e seus personagens, tigres mais raramente, mas os elefantes sempre presentes. Elefantes que são utilizados em festividades e como força de trabalho. Kandi é o centro cultural do país com seu templo budista mais venerado do país às margens de um belo lago. As cidades perdidas de antigas civilizações como Pollonaruwa e Anuradhapura são maravilhosas.
Tentando descrever o Sri Lanka, colocaria que conjuga a beleza natural da ilha de Bali, o budismo e riqueza arqueológica da Birmânia com a profundidade do povo da Índia numa combinação do melhor da Ásia. Mas infelizmente com sangrentos conflitos étnicos também presentes no meu adorado continente asiático.
Suas cidades milenares
Em uma viagem sempre se busca satisfazer alguns interesses, sejam profissionais, pessoais, culturais ou apenas relax e lazer. Normalmente é uma combinação de vários desses. E assim foi minha decisão de visitar o Sri Lanka, aproveitar suas belas praias, curtir o cenário de templos e elefantes, e descobrir um pouco de sua história milenar. E foi esta viagem ao passado que mais me fascinou – os dias entre as ruínas de templos e palácios das antigas capitais de reinos cingaleses me transportaram para outra dimensão de tempo/espaço.
Ao percorrer as cidades de pedra tomadas pela floresta de Pollonnaruwa e Anuradhapura, imaginei a vida há mais de mil anos no centro desses impérios perpetuados nessas cidades-mortas. São impressionantes pela carga histórica e pelo legado artístico e arquitetônico.
História do Sri Lanka
Em 1972 o Ceilão, cujo nome havia sido dado pelos colonizadores portugueses no séc. XVI, voltou a usar o nome milenar Sri Lanka, como a ilha era chamada pela população local e que significa “terra esplêndida”. No universo das lendas, Lanka aparece no milenar épico hindu Ramayana como o local para onde Sita teria sido levada pelo demônio Rawada, resgatada depois pelo herói Rama e o deus-macaco Hunaman. Lenda que até pode relacionar-se com alguns eventos da história de frequentes invasões vindas do Sul da Índia.
Já no que diz respeito à história real, o povo cingalês teria chegado ao Sri Lanka no séc. V a.C. Vieram do norte da Índia e substituiram os habitantes anteriores, os Veddahs. O reino cingalês de Anuradhapura se desenvolveu na planície norte da ilha no séc. IV a.C. No século seguinte o filho do grande imperador budista Ashoka, que reinava na Índia, converteu o rei e o povo cingalês ao budismo, que constituirá a identidade cultural do mesmo.
Anuradhapura foi o centro de reino pelos mil anos seguintes, sofrendo constantes invasões do sul da Índia, onde o hinduísmo continuava a florescer. No séc. XI a capital foi transferida para Pollonaruwa mais para o centro da ilha, sendo o rei Parakramabahu I, no séc. XII, o grande construtor de imponentes obras. No século seguinte, novas invasões e um reino indiano se estabelece no norte da ilha, e Pollonaruwa também é abandonada.
Reinos cingaleses se fixaram nas montanhas do Centro (Kandy) e sul do país. A partir do séc. XVI se substituem no poder colonizadores portugueses, holandeses e ingleses até a independência em 1948.
Anuradhapura
O sítio arqueológico de Anuradhapura é o mais importante do país, com mil anos de história e outro milênio de abandono. As maiores obras são do reinado de Vanampiya Tissa no séc III A.C., quando o budismo chegou na ilha. Na época sendo plantada uma “bodhi tree” de um ramo de árvore na qual Buddha atingiu iluminação – Sri Maha Bodhi –, árvore de veneração até hoje. As ruínas estão espalhadas ao redor desta árvore sagrada, entre plantações de arroz, lagos remanescentes de avançados sistemas de irrigação daquele período e atual cidade de Anuhadhapura. A melhor maneira de descobri-la é de bicicleta, tendo o topo de pagodas milenares despontando sobre os coqueiros como pontos de referências. Mais afastada, com 75 m de altura, a pagoda Abhayagiri era o centro de um mosteiro de 5 mil monges.
Pollonaruwa
As ruínas dessa cidade que floresceu por dois séculos abandonada no séc. XVI e foi tomada pela floresta são ainda mais impressionantes, pois os templos e palácios estão mais bem preservados. Sendo um sítio fechado, nada perturba uma viagem no tempo por entre refinadas esculturas religiosas e grandiosa arquitetura no imponente reino de Parakramabaku. O pôr do sol sobre a imagem de Buddha apenas com o som dos pássaros e a brisa nas árvores é maravilhoso. Pollonaruwa Rest House sobre o lago é o hotel ideal para entrar no clima do local.
Além dessas, é imperdível a fortaleza rochosa de Sigiriya, com belos afrescos do séc. V, as estátuas de Buddha das cavernas de Dambulla, entre outros. O Sri Lanka tem todo passado glorioso e esperamos que vença seus conflitos internos atuais para voltar a ser a “terra esplêndida” em sua plenitude.
Kandy
A agradável cidade de 100 mil habitantes é o centro da região das montanhas e capital do último reino cingalês conquistado pelos britânicos em 1815, após 3 séculos de resistência aos ataques portugueses e holandeses. A chegada na cidade com o sol se pondo sobre o mais importante templo budista do país refletido nas águas do algo central foi mágica. Kandy é cheia de agradáveis surpresas. O entardecer vem acompanhando dos cânticos religiosos nas ‘Pooja’ diárias no ‘Dala Maligawa’, templo que abriga a mais importante relíquia budista do país: um dente de Buddha.
O templo construído pelos reis de Kandy no final do séc. XVII é imponente, com sistema de muros, fosso e o relicário ricamente trabalhado. Compõe com o lago, criado em 1807 pelo último rei de Kandy, a sua frente e o santuário do bosque Udawattakelle ao fundo um conjunto de rara beleza. Kandy tem um interessante museu nacional e os mais importantes mosteiros do país: Malwatte às margens do lago e Asgiriya no topo de uma colina.
O centro cultural de Kandy oferece a bela artesania local em laqueados e entalhes de madeira, inclusive máscaras utilizadas nas danças típicas apresentadas neste mesmo local. Um belo passeio de um turno nas proximidades de Kandy é o circuito de templos. Gadaladeniya, construído no topo de um rochedo no séc. XIV, é budista, com um anexo hindu. Lankatilake já é hindu com um anexo budista em um belo cenário de terraças de arrozais e colinas. No templo de Embekke encontramos os mais belos entalhes nesta estrutura de madeira de mais de 500 anos com refinadas imagens de apsaras (dançarinas) e animais sagrados. Um bom final para este passeio é na sombra das belas árvores do jardim botânico na entrada de Kandy. Por tudo isso que a charmosa Kandy é uma ótima opção para iniciar a exploração das belezas do Sri Lanka.
Mais informações sobre viagens ao Sri Lanka e pelo mundo com Beto Conte, que já percorreu 150 países nos 6 continentes e coordena há 35 anos a TripTravel Viagens e Intercâmbios, que faz parte da seleta rede Virtuoso que congrega as melhores agências de viagens do mundo. (beto@triptravel.com.br e 51 99314.0587)