O mundo sempre passou por mudanças, mais ou menos agudas, mas nos últimos 30 anos, com a escalada da Web, a transformação foi tão radical que é como se vivêssemos hoje em um novo planeta. Como diz o psicanalista Jorge Forbes, este planeta é igualzinho ao anterior na aparência, mas saiu de um modo vertical para um modo horizontal, com uma mudança absolutamente radical de todos os parâmetros de 2.800 anos, desde as formas de nascer e morrer até nossas relações em família, comunidade, trabalho, com o nosso próprio corpo, as tecnologias, os avanços científicos, etc.
A geração dos baby boomers (nascidos no pós-Guerras, entre 46 e 64) assistiu de camarote à transformação – alguns paralisaram e outros aproveitaram para surfar a onda revolucionária. A mulher que amamos desta edição, Luíza Estima (safra 61), é o exemplo vivo e a cores (mire no brilho dos olhos azuis) da capacidade e desenvoltura para se jogar ao mar, para se reinventar. O mundo corporativo ainda não assimilou o novo planeta em que pessoas já vivem até os 80 anos, 90 anos, com ótima disposição inventiva, e a discussão sobre etarismo está cada vez mais acirrada. Enquanto o mercado titubeia entre o que é ser jovem ou velho para um trabalho, Luíza é o tipo de mulher que segue não só criando o seu espaço, como resolveu dar uma guinada na vida profissional e pessoal.
Depois de 33 anos atuando como jornalista em São Paulo, veio para o Sul cursar a faculdade de Escrita Criativa na PUCRS (a única universidade que oferece essa graduação no Brasil). E desencadeou um tsunami no campus, em Porto Alegre: formou um colab com a garotada da turma e criou o Café da Escrita. Em apenas um ano, já é uma empresa em sociedade com o colega Richard De Leone e tem vários eventos realizados, reunindo pessoas que fazem o mundo mais bonito e um público ávido de participação – os habitantes deste planeta horizontal.
No mais recente, o Cafestival, promovido por um pool de cafeterias, fez toda a curadoria da cozinha-show do evento, com oficinas de escrita criativa, análise sensorial, gastronomia, harmonização, criatividade e drinques, mais degustações e palestras. Cerca de 1.300 amantes do café compareceram, durante um domingo inteirinho, no Mercado Paralelo, no “buchichado” (o termo é da Luíza, no Instagram), 4o Distrito da capital gaúcha. Para o primeiro semestre de 2023, o Café da Escrita já colocou em gestação um evento que promete um intercâmbio de gentes e saberes, de vários locais do país, que criam e recriam a palavra.
E agora um detalhe importante: com seus 61 blond anos recém-completos, Luíza manda muitíssimo bem em tecnologia. Desde garota nutre uma curiosidade sem limites para inovações de todo o tipo e vai fuçando ferramentas e recursos que lhe permitam executar suas ideias. Descobriu uma paixão pelos vídeos curtos na internet e foi pesquisando aplicativos, comprando equipamentos e começou a gravar usando imagens, textos, narrações, músicas e o que lhe vem à cabeça, mostrando o Café da Escrita e suas outras atividades. Sim, porque ela também é poeta (recentemente lançou o livro Trapiche, com 25 poemas, pensamentos e ilustrações de sua autoria), cantora e exímia cozinheira, tendo criado dois filhos em meio a aromas e muita conversa solta e saborosa; e avó de uma pimpolha faceira, que também já se delicia com as criações culinárias. Aliás, Luíza está entre as finalistas do Concurso Mistura Típica com um peixe ao molho de uma indescritível geleia de maracujá e erva-mate tostada e farofa de pinhão. E vai postando tudo, o tempo todo, nas redes sociais. Para relaxar do incensado cotidiano, solta a voz no samba, que ama, até sozinha no microfone em casa, mas de preferência em um karaokê ou com o coral de amigas, afinal, é uma mulher profundamente social.