Um colar de ilhas, antigas colônias britânicas,
entre o mar do Caribe e o Oceano Atlântico
Ao planejar esta viagem pelo Caribe, o critério de escolha havia sido o de ilhas-nação que eu ainda não conhecia. Cheguei por Barbados, de onde embarquei em um cruzeiro percorrendo Trinidad & Tobago, Granada, Saint Vincent e Granadines, Dominica e Santa Lucia. Depois, voei para Antigua e terminei a viagem em St. Kitts e Neves. Dentre elas só já havia estado em Barbados e Granada, e assim carimbei 6 novos países em meu mapa-múndi pessoal, que abrange agora 149 países nos seis continentes. Após 18 dias percorrendo essas 11 ilhas de 8 países, encontrei muitas similaridades e outras tantas peculiaridades entre elas, que relaciono a seguir.
História e economia
Até o século XX, a história é bastante comum a todas essas ilhas, com assentamentos indígenas, o domínio colonial europeu e finalmente a independência. A ocupação humana se inicia há 2 mil anos com os indígenas arawak, pacíficos e dedicados à pesca e à agricultura de subsistência. A partir do século XIII foram suplantados pelos caribes, um povo guerreiro, que também navegava da costa da atual Venezuela a essas ilhas do sudeste caribenho. Com a chegada dos conquistadores europeus, a partir do século XVI foi a vez dos caribes serem exterminados ou expulsos de todo Caribe Oriental, exceto da Dominica, onde constituem 5% da população e vivem em uma reserva indígena na costa leste da ilha.
Todas essas jovens nações têm um passado colonial europeu comum, baseado nas plantações de cana-de-açúcar e no trabalho escravo. Dos 10 milhões de africanos trazidos como escravos para as Américas, 25% tiveram como destino as colônias britânicas no Caribe, onde seus descendentes constituem a maioria da população.
Essas ilhas do Caribe Oriental compartilham o idioma inglês e o passado colonial britânico, do qual ficaram independentes entre os anos 60 e 80 do século passado. Elas fizeram parte da “Confederação das Índias Ocidentais” de 1958 a 1962, quando se desmembraram em uma série de novos estados.
Algumas, como Dominica, Saint Vincent e Santa Lucia, foram também colônias francesas, até que em diferentes acordos no final do século XVIII passaram ao domínio britânico. Ficou como herança o idioma “creole” que tem sua base no francês. Já Trinidad foi espanhola e francesa antes de passar ao domínio inglês.
Todas essas jovens nações, como ex-colônias britânicas, fazem parte da Commonwealth, e a maioria segue como monarquia, tendo o rei Charles III como chefe de Estado – exceto Trinidad & Tobago, Dominica e Barbados, que adotaram o sistema republicano.
Essas ilhas estão ligadas entre si por um mercado comum, CaribeCom, que inclui também ex-colônias francesas e holandesas. Barbados e Trinidad & Tobago, as economias mais robustas da região, têm sua moeda própria, enquanto as demais pequenas ex-colônias britânicas têm o “dólar caribenho oriental” em comum.
Trinidad & Tobago se diferencia das demais por estar na placa tectônica sul-americana, a apenas 10 km da costa da Venezuela. Barbados, a única ilha da região de formação sobre corais, é bastante plana, enquanto todas as demais são de formação vulcânica, montanhosas e verdejantes.
Trinidad & Tobago tem reservas de petróleo como principal fonte econômica, liderando em termos de PIB com 24 bilhões de dólares, seguida de Barbados, com 5 bilhões e relevante indústria de cimento. Nas demais ilhas o turismo é a base da economia, além da pesca e da agricultura. Dominica, a ilha menos próspera, tem um PIB de apenas 0,5 bilhões de dólares, e Santa Lucia o pior ranking de IDH entre essas ilhas, na 107ª posição global.
A remessa de divisas de expatriados é muito importante para a maioria das pequenas ilhas. Granada, por exemplo, tem mais cidadãos vivendo no exterior do que na ilha caribenha de limitados recursos.
Em termos de mapa-político e geográfico, Barbados, Santa Lúcia e Dominica são ilhas-nação. Outros desses países caribenhos, como Trinidad & Tobago, Antigua & Barbuda e St. Kitts & Neves são compostos por duas ilhas principais. Já Granada e Saint Vincent tem uma corrente de ilhas menores, as granadines.
Outra característica comum entre essas ilhas é de estarem na rota de furacões, que vem do Atlântico, entre de julho a outubro, e a primeira barreira que encontram no caminho em direção ao Caribe é esse colar de ilhas. Furacões famosos como Irma e Maria devastaram Dominica e Santa Lúcia, que ainda não se recuperaram totalmente. Barbados e Trinidad, mais ao sul, tem sido as nações menos afetadas por esses ciclones tropicais.
Entre os países dessa viagem, Trinidad & Tobago foi o maior, com 5 mil km2, e St. Kitts e Nevis a menor nação das Américas, com apenas 261 km2.
Feita essa apresentação geral da região, vou compartilhar com vocês também as minhas impressões de cada uma das ilhas desvendadas, que além das praias e palmeiras têm em comum seus segredos e encantos.
Curtindo as ilhas
A viagem começou por Barbados, de onde chegamos pelo ar, vindos de Miami, e partimos a bordo do Raphsody of the Seas, navio da Royal Caribbean. A ilha poderia ser percorrida toda em um dia, mas o legal é ir desvendando-a aos poucos. A começar pelas praias, com o tranquilo mar do Caribe na costa oeste, e o oceano Atlântico na costa leste, mais agitado. Fiquei em ChristChurch, no sul da ilha, onde fazia minhas caminhadas matinais na praia de Hastings ao longo da Richard Haynes Board Walk, uma passarela junto ao mar decorada com a mostra “Colours of Barbados” de pinturas de artistas locais ao ar livre – uma bela combinação de arte, esporte e natureza, bem como eu gosto. Para a noite a pedida é o St. Lawrence Gap, com seus movimentados bares e restaurantes.
A primeira parada do cruzeiro foi em Trinidad & Tobago, o maior e mais populoso país da região, com mais de 1,5 milhão de habitantes e 5.128 km2. Em Port Of Spain, a capital, me impressionaram as belas casas do período colonial britânico, da época do boom do cacau, do tabaco e do algodão. São pouco mais de 20 km entre Port of Spain e Maracas Bay, mas o percurso cheio de curvas pelas montanhas leva mais de uma hora, e vale muito a pena. Atravessam-se montanhas com florestas para descer na costa norte da ilha, pontilhada de ilhotas e belas praias. Um banho de mar e um coquetel com Fernandes Rum é a pedida, embalado no ritmo do Calipso local. Já a pequena Tobago foi domínio holandês, francês e de diferentes nobres europeus, até ser considerada território neutro – habitada por pequenos fazendeiros de tabaco e algodão, bem como de piratas. No final do século XIX ficou sob controle britânico e finalmente incorporada à Trinidad. Adorei Tobago, pouco povoada e desbravada, onde mergulhei no Bucco reef e flutuei na Nylon Pool. Uma parte ainda intocada do Caribe.
A pequena Tobago é uma parte ainda intocada
do caribe, pouco povoada e desbravada
Granada oferece um dos mais cênicos portos do Caribe na capital St. George, com suas construções em pedra e alvenaria do século XIX no entorno da bem protegida marina. No alto de uma colina, no forte St. George, construído pelos franceses em 1705, o jovem primeiro-ministro Maurice Bishop, progressista e não alinhado, foi executado em 1983. Eu lembrava bem do episódio que colocou Granada nas manchetes com a ocupação norte-americana dessa pequena ilha caribenha. A justificativa era proteger os estudantes da American Medical School, alinhada às óbvias questões geopolíticas de manter o Caribe, em bloco, dentro de sua área de influência. Renomada como “A ilha das especiarias” com suas plantações de noz moscada, gengibre, cravo e canela, é composta por um centro montanhoso e uma costa recortada por baías e enseadas – compondo um belo conjunto.
Na nossa parada em Kingstown, capital de St. Vincent, peguei um catamarã direto para uma das 30 ilhotas chamadas de Granadines, que se estendem até Granada, a nação vizinha mais ao sul, um paraíso para velejadores com marinas cheias de iates milionários e casas de férias de ricos e famosos. Esse colar de ilhas é o cume de vulcões oriundos do choque das placas tectônicas do Caribe e suas vizinhas. Meu destino foi Bequia, onde me encantei com a baía do Almirantado, com nomes legados pela realeza britânica, como Port Elizabeth, onde atracamos, de onde caminhei por uma bela trilha por rochas sobre o mar até a praia Princess Margareth, com suas areias douradas, coqueiros e veleiros. Seguindo a navegação chega-se ao Moon Hole, com direito a parada para snorkeling em águas envolventemente azuis.
Outra ilha-nação montanhosa e verdejante é Santa Lucia. Ocupada pelos ingleses no século XVII e pelos franceses no século seguinte, ao longo de 150 anos trocou 14 vezes de mão entre eles. Finalmente, com o tratado de Paris de 1814, fica estabelecido o domínio britânico, até sua independência em 1979. Foi nessa ilha que encontrei um dos recantos mais fotogênicos da viagem – a pequena e protegida baía de Marigot, com suas águas calmas, praia de areia fina e clara, sombreada por esbeltas palmeiras, compondo com uma bela marina decorada com velas e embarcações. Cenário de brindar com “Piton Beer”, a cerveja mais popular do país.
A baía de Marigot, em Santa Lucia, com suas
águas calmas, areia clara fininha e palmeiras
é um dos lugares mais fotogênicos do Caribe
Dominica é uma ilha montanhosa de origem vulcânica coberta por florestas tropicais intocadas, perfeita para o ecoturismo. A capital e principal porto é a cidade de Roseau, pitoresca, mas é o interior da ilha que abriga as grandes atrações. A montanha mais alta é o pico do vulcão Morne Diablotin, com 1.447 metros, e destaca-se também o parque nacional Morne Trois Pitons National Park, patrimônio mundial pela Unesco desde 1997. Fizemos um circuito de 4×4 pelo coração da ilha, com direito à trilha pelo meio da floresta até uma cachoeira que forma a Emerald Pool, uma piscina natural onde nos refrescamos. Recomendo também banhar-se em Mero Beach com suas areias negras, típicas dessa ilha vulcânica.
Após o cruzeiro passamos mais uma semana nas águas do Caribe. Ficará sempre na memória a estada no Admirals’ Inn, que compõe com os prédios de 1795 do Nelson’s Dockyard, na bem protegida English Harbour em Antigua, a base da marinha britânica para controlar o seu império na “West Indies”. Uma verdadeira viagem no tempo e na história local. Adorei mergulhar em Hercules Pillar’s e em Blacks Point, e mais legal ainda ser surpreendido em Gallean Beach pela chegada dos Kiwi Warriors, uma dupla que atravessou o Atlântico em caiaque em 58 dias – remando por 4.800km das Canarias até Antigua. Meus super-heróis!! Na Jolly Harbour, na costa oeste de Antígua, desfrutamos de um “veraneio” no Tamarind Hills – caminhando nas areias por entre belas baías.
Terminamos nossa trip em St. Kitts, a menor nação das américas, com menos de 50 mil habitantes, e a mais jovem, independente da Inglaterra somente desde 1983. A capital, Basseterre, tem alguns prédios interessantes do período colonial, mas é na península sul que combina grande beleza natural, com enseadas e baías, por entre penhascos montanhosos, decoradas por velas de catamarãs e iates. De lá atravessamos de ferry para a ainda menor Neves, onde contornamos a ilha para almoçar no charmoso Golden Rock Inn em Nevis – um hotel-boutique em uma antiga fazenda de cana-de-açúcar.
Com isso terminamos uma deliciosa viagem, saboreando pescado e frutos do mar, e brindando com rum punch e a cerveja Carib local. Adorei navegar, velejar, voar e trafegar por esse pedaço encantado do planeta. Recomendo! Muito.
Beto Conte, diretor da TripTravel Viagens e Intercâmbios, já percorreu 149 países nos 6 continentes. Mais informações sobre navegação no Caribe e viagens pelo mundo pelo beto@triptravel.com.br e (51) 993140587