“Me caiu os butiá do bolso.” A expressão regionalista típica do Rio Grande do Sul significa que a pessoa está impressionada, surpresa. É usada porque os gaúchos, ao percorrerem as estradas e o campo, costumavam encontrar os butiás em profusão e encher com as frutas os bolsos das bombachas de tal forma que, a qualquer supetão, essas caíam.
Conhecido no centro do país como coquinho azedo e na Argentina como yatay, o butiá é encontrado no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, nos campos, cerrados e restingas. Apesar de algumas espécies já serem classificadas como ameaçadas de extinção, em certas regiões se destacam pela concentração das palmeiras, conhecidas como Rotas dos Butiazais.
Diferentes versões apontam o surgimento dessas rotas. Uma delas afirma que os índios nômades que habitavam a região das Missões e Planalto Central gaúcho no período de verão, no inverno, partiam para o Paraná, na região de Foz do Iguaçu, e levavam consigo frutos de butiá para alimentação. Como muitos jogavam as sementes pelo caminho, a rota que os índios faziam ficou evidenciada pelos palmares remanescentes, plantados aleatoriamente por esse processo.
Outra versão é de que os jesuítas foram os responsáveis pela difusão dos butiazais ao plantarem as sementes como uma forma de marcar território onde viviam. Há quem associe a rota ao traçado de antigas linhas férreas. Como os frutos serviam de alimento aos passageiros durante as viagens de trem, esses descartavam os coquinhos pelas janelas, colaborando para a disseminação das plantas pela região.
O que importa realmente é que o butiá, no Brasil, ainda está presente no Rio Grande do Sul (no Litoral Norte, no Bioma Pampa e nos campos de altitude), em Santa Catarina (no Litoral e nos campos de altitude) e no Cerrado (especialmente no norte de Minas Gerais).
A utilização mais comum do butiá é em licores e cachaças. Mas se engana quem acredita que o consumo se reduz a essas duas práticas. Uma prova disso é Butiá Para Todos os Gostos, livro publicado pela Embrapa Clima Temperado e que reúne 141 receitas de doces, salgados, bebidas e geleias com a fruta. O livro acaba de ter sua importância reconhecida ao ser um dos indicados no Gourmant World Cookbook Awards, prêmio que destaca produções editoriais sobre comidas e bebidas de 229 países e regiões, como o melhor livro de receitas gratuito. A pesquisa da Embrapa foi realizada junto a apreciadores dos butiás, cursos de gastronomia e chefs de cozinha do Brasil, Uruguai e Argentina.
De sabor predominantemente ácido, o butiá apresenta diversos tamanhos, texturas de casca e quantidade de fibras de polpa. Pode ser encontrado em diferentes cores: do verde aos tons alaranjados, passando pelo amarelo e até amarronzado.
A utilização mais comum do butiá
é em licores e cachaças
Na Cozinha
- A polpa do butiá é muito apreciada in natura, na fabricação de doces, sucos, licores e sorvetes.
- É ingrediente para tortas, bolos, compotas, trufas, pudins.
- Um dos preparos que têm integrado pratos de diferentes chefs do Sul do Brasil é a mostarda de butiá, que acompanha carnes, aves e peixes.
- Os molhos à base dos frutos também são muito apreciados na gastronomia.
- No interior de cada fruto há um coquinho e, dentro dele, amêndoas comestíveis.
- A amêndoa do butiá é oleosa, crocante, saborosa, suave, com sabor semelhante ao do coco e pode compor receitas doces e salgadas, como qualquer outro fruto seco.
- Transformada em farinha, a amêndoa integra receitas de pães, bolos e biscoitos.
Saiba mais
- As palmeiras de butiá se dividem em pelo menos 9 espécies diferentes nativas da América do Sul
- O butiazeiro leva de 7 a 10 anos para frutificar.
- O butiá tem alto teor de potássio, manganês e ferro, além de ser rico em vitamina C.
- O coquinho é extremamente duro e guarda em seu interior de 1 a 3 amêndoas.
- Para retirar a amêndoa, é preciso deixar o coquinho secar ao sol por uns dias ou levar ao fogo e só depois quebrar.
- Registros arqueológicos comprovam o uso das amêndoas por populações do Uruguai há mais de 8 mil anos.
- Os pesquisadores afirmam que os indígenas costumavam, além de utilizar o fruto como alimento, empregar as folhas no artesanato, na fabricação de cestas, chapéus, bolsas, redes, armadilhas para caça e pesca e também na cobertura de cabanas.