A palavra tendência se tornou uma constante em vários segmentos. Confesso que há momentos em que muito a questiono, principalmente quando vem acompanhada por um tom impositivo. Algo do tipo, ou você abraça a tendência ou será discriminada. E se os influencers estiverem orbitando em torno delas, a sentença é redobrada!
Quando procurei tempos atrás uma casa para comprar, acabei desistindo. Os tons de cinza, os neutros, os marmorizados, os polidos, principalmente o Calacata, predominavam do começo ao fim. Da fachada ao interior estavam lá presentes de alguma forma. Na marcenaria, nos pisos, nos revestimentos, nas bancadas da cozinha, do gourmet, dos banheiros. A verdade é que eu procurava uma casa que arrancasse de mim um UAU!
Eu já nem sabia mais se era uma questão de tendência ou se todo investidor faz residências monocromáticas para vender mais rápido. Se essa é uma estratégia, confesso que não funcionou comigo. Definitivamente não conseguiria morar em um espaço que não revelasse nada de mim. Pálido, sem cor. Claro que para muitas pessoas essas casas talvez sejam sinônimo de requinte e bom gosto. Ainda que eu as decorasse com muito do que sou eu e a minha família, a estrutura principal passaria longe da nossa essência.
Imagina a gente indo ao supermercado e encontrar nas gôndolas e refrigeradores só produtos que não agradam ao nosso paladar, e outros tantos que optamos por não consumir pelo fato de existir tantos outros que passamos a preferir. Pois é, a sensação foi mais ou menos essa naquela época.
A casa que habitamos ou os espaços que frequentamos acessam todos os nossos sentidos. O bem-estar deve ser a nossa régua de corte. Quem sabe com a tendência da decoração afetiva e emotiva tenhamos mais apoio de consultores de vendas e de profissionais especificadores no momento de decidir por produtos para a tão sonhada casa. Tomara que essa tendência não passe jamais!
Sinto que é fácil transferir para a casa do cliente aquele lindo showroom montado naquela loja que é referência na cidade. Difícil para alguns profissionais é abrir mão da própria subjetividade e transitar pelo universo particular de cada cliente. Com suas experiências, marcas do tempo, expectativas, valores…
Para quem tem muito dinheiro sobrando, construir e reformar, várias vezes ao longo da vida, pode ser um processo tranquilo e comum. Para mim, ao contrário, é um acontecimento que envolve muitas emoções, sensações. Alegria, ansiedade, preocupação, medo, euforia são apenas algumas delas. Haja coração! Mas é bom.
Melhor mesmo é poder ir ao supermercado e fazer as escolhas para o paladar do dia, para a programação da semana ou do mês. Nada a longo prazo ou com validade estendida por 10, 15 ou até mesmo 20 anos, como é o caso de alguns pisos e revestimentos em determinadas casas.
Até o meu canto ficar pronto, vai tempo ainda. Só que agora tenho de decidir por onde meus pés, mãos e olhos transitarão, acredito, pelo resto da minha vida. As escolhas principais ficaram sob minha responsabilidade.
Sigo o meu coração, busco por acolhimento, aconchego e bem-estar. Essa sempre foi a minha tendência. Quem sabe quando a casa estiver revestida e vestida para receber a minha família, amigos e todos que nela entrarem, eles sintam, desde a fachada, a sensação que eu tanto buscava encontrar naquelas casas feitas para qualquer um morar.
Aí meu coração vai pular de alegria! Se Deus quiser, terei uma casa pra chamar de minha.
Celso Gutfreind
Às vezes, pode vir um verso e, como uma fagulha, acende algo em nós. Ou, em vez dele, uma imagem sem palavras, uma canção, um único acorde dela. E