Fernanda Gassen nasceu há 40 anos em São João do Polêsine, pequena cidade gaúcha e de cultura italiana. Sua mãe, Valserina, é uma forte figura feminina em sua vida. Foi professora, prefeita da cidade e grande incentivadora dos filhos. Fernanda, que tinha à disposição canetas e lápis para criar, certa vez foi surpreendida com uma caixa de goivas – instrumentos para o entalhe em madeira e produção de matrizes para gravuras. Era tão pequena que não sabia manuseá-las, mas o presente em si foi uma demonstração de que sua mãe a encorajava para a vida artística.
Quando chegou a vez de escolher uma profissão, inicialmente pensou em Arquitetura, mas logo optou pelas Artes Visuais, que estudou na cidade de Santa Maria. Por lá morou durante seis anos e foi onde conheceu o marido, e também artista visual, Michel Zózimo. Em 2006 os dois mudaram-se para Porto Alegre e cursaram Mestrado e Doutorado em Artes Visuais, com a ajuda de bolsas de estudo. Foi nessa época que Fernanda começou a lecionar. Primeiramente em uma escola em Sapucaia e, mais tarde, aprovada em um concurso público federal, tornou-se professora do Colégio Aplicação, onde atua até hoje.
As vidas de professora e de artista se misturam a todo tempo. Para lecionar, Fernanda precisa ser artista. E quando está em sala de aula, com crianças de 7 e 8 anos, também aprende com eles e dá novo sentido a tudo que desenvolveu na faculdade. Em uma parceria com mestres da área da música e do teatro, suas aulas têm como objetivo aproximar as crianças das práticas artísticas e ajudá-las a ter ferramentas para que entendam não somente a arte, como o mundo ao seu redor. Conectar a arte ao universo infantil ganhou ainda mais sentido com o nascimento da filha Teresa. Aos 6 anos de idade, a pequena já demonstra seus dotes artísticos, herdados da mãe e do pai, e manifesta seu apreço por diferentes demonstrações culturais.
Mesmo com a rotina na escola, a carreira artística de Fernanda se desenrola em paralelo. Seu processo criativo é longo e ela faz uso da arte para falar de questões sociais. Embora tenha mais proximidade com a fotografia, não se apega a nenhuma técnica. Para ela tudo começa com uma ideia, seguida de um extenso processo de pesquisa, para então virar arte, independentemente do meio que decida aplicar.
Em um trabalho recente chamado “Uma a cada vez”, produzido especialmente para o Instituto Ling, em Porto Alegre, ela criou um desenho poético: por meio de um enorme gráfico, que tomou uma parede inteira do centro cultural, traçou 1.440 retângulos que ilustram cada minuto de um dia. Preencheu então alguns deles com diferentes cores, marcando o fato de que uma mulher é morta no Brasil a cada sete horas e estuprada a cada dez minutos.
Fernanda costuma abordar temas difíceis e áridos. As ideias geralmente nascem de notícias de jornais ou da televisão. Depois disso, com muita pesquisa de dados e reflexão, ela dá forma à sua visão, seja por meio do desenho, da fotografia e até mesmo da grafia. Em outra obra, ela escreveu os nomes de 46.186 mulheres que foram vítimas de feminicídio. Ao nomear cada uma delas, mostra que não são números, e sim pessoas que perderam a vida por uma violência que deveria ter sido evitada.
O que a move é instigar as pessoas. Não se prende a estéticas nem cria obras contemplativas – sua arte é feita para criar debate e inquietação. Fernanda Gassen, com todo seu talento e propósito, já participou de exposições em importantes instituições, como as fundações Iberê Camargo, Vera Chaves Barcellos e Ecarta, e está a cada ano consolidando o seu nome dentro da arte contemporânea gaúcha.