Em suas próprias palavras, Fátima Torri é uma mulher com a essência do imigrante italiano. Seus pais, Antônio Victor e Modesta, que eram do interior de Santa Maria, falavam dialeto e mantinham pesadas rotinas de labuta. Com eles, aprendeu valores que a acompanham até hoje, como trabalhar arduamente, não gastar mais do que ganha e conquistar a casa própria. Estes princípios formaram seu caráter e construíram sua personalidade aguerrida e independente.
Mas foi outro marcante traço de sua personalidade, o poder de observação, que a fez perceber o quão diferentes eram as vidas de homens e mulheres. Enquanto ela via sua mãe olhando para baixo (limpando, amamentando, cozinhando, lavando roupas), seu pai estava sempre de cabeça erguida, ao negociar e tomar decisões. Mesmo sem entender a razão dessas diferenças, decidiu não seguir a vida típica de uma mulher – em uma época em que elas só podiam escolher entre se tornarem donas de casa ou professoras, ela queria muito mais.
Seu espírito empreendedor aflorou bem cedo. Aos 10 anos de idade, descobriu que poderia alugar o telefone da família – artigo raro nas residências, à época –, e com o dinheiro, comprava guloseimas. E ainda havia uma diversão a mais: às escondidas, Fátima ouvia as conversas das pessoas. Com essa curiosidade nata, aliada à paixão por histórias reais e humanas, escolher o jornalismo como profissão foi um caminho natural.
Ainda em Santa Maria, onde cursou faculdade, dividia-se entre uma rádio, um jornal, aulas de teatro, um grupo feminista e o movimento estudantil. Tantas atividades, em uma jornada diária de 18 horas, foram sua grande escola da vida. Sua competência a fez crescer e conquistar espaço em importantes veículos de comunicação do Brasil, como Zero Hora, Estado de S. Paulo, Folha da Manhã e Exame. Ela ainda colaborou como freelancer para as revistas Claudia e Marie Claire.
Com essa rica bagagem profissional e após o nascimento dos filhos Bruno e Marcelo, Fátima entendeu que ela era a única responsável por si e por sua felicidade. A maternidade revolucionou sua vida, lhe dando grande força para empreender – e assim nasceu a Fatto Comunicação, uma das principais agências em seu segmento do sul do Brasil, e que em 22 anos já atendeu clientes como Tramontina, Tintas Renner, Shopping Iguatemi, Hospital Moinhos de Vento e Panvel.
Com uma turbulenta agenda de compromissos, há alguns anos Fátima se deu conta de que algo estava faltando. Começou a repensar sua vida, desejos e planos. Se quando menina não aceitava viver sob as amarras machistas, na vida adulta decidiu dar voz a sua natureza questionadora e rebelde. E em 2020, em plena pandemia, resolveu revitalizar um sonho de muitos anos: lançou a revista digital “Fala Feminina”.
No site www.falafeminina.com.br ela reúne textos e entrevistas sobre assuntos diversos como velhice, maternidade, infertilidade, a ditadura da beleza e da magreza, racismo, menopausa e muito mais. É um espaço criado por e para mulheres, construído com muito amor, dedicação e entrega.
O Fala Feminina usa a informação como ferramenta de inspiração e mudança para mulheres de todas as idades. Enquanto eu ouvia suas palavras e histórias, sempre carregadas de intensidade e paixão, lembrei de uma expressão norte-americana que define as pessoas que são mais interessantes que a maioria: “larger than life”.
E assim é Fátima Torri: maior que a vida.