Eu sei que soa clichê. Sei que parece fácil falar não estando presente no meio de todo o desolamento pelo qual milhares de pessoas estão passando. Sei que ouvir que vai passar chega a ser, para muitos, uma afronta. Porque de fato há muita coisa que não vai passar. As memórias tendem a voltar. Sentimentos de angústia, ansiedade, medo, insegurança, incerteza, tristeza mesmo, se farão presentes no dia-a-dia de um futuro incerto. Mas vai passar!
O tempo vai passar. E somente com ele é possível caminhar. Porque o passado não pode ser mudado. O cenário que se fez perturbador demorará a mudar. Todos os vestígios de uma vida que já não existe mais, não será trazido de volta. Será preciso olhar apenas para frente.
Mas como? Ainda não sabemos. Não há destino certo para quem está no olho do furacão. Porém uma coisa é sabida: para quem ficou sem norte, sem chão, sem rotina, qualquer início é válido.
Sendo assim, esta pode ser a oportunidade para muitos de um recomeço. Um começar de novo. Primeiro porque é preciso seguir, e segundo que no seguir você vai construir uma nova vida!
Em todo processo de dor, de luto, de perda, e acima de tudo em catástrofes, há quem se sente e chore e há os que se levantam e fazem. E o povo gaúcho é de longe a maior demonstração desta força. Conhecendo a energia desse povo sulista, que não foge a luta, entendemos que por mais difícil que pareça agora, vão superar, vão fazer do limão uma limonada e sim, vai passar.
Ao passar, não só veremos um povo mais unido, mais forte, mais construtor; mas também uma comunidade ainda mais responsável e consciente.
Não há dúvida de que mais este episódio doloroso na vida de muitos veio para ressignificar algo para além deste Estado. Um alerta se fez presente para uma nação. Não só o Rio Grande do Sul não será mais o mesmo, mas todo o Brasil não será. Todos choramos a dor dos irmãos do Sul, todos sentimos um pesar enorme nas perdas, todos compreendemos a responsabilidade do coletivo, mas todos entendemos acima de tudo que temos que mudar. E rápido! Mudar a maneira de cuidar dessa casa maior. Mudar o olhar. Mudar a direção das ações.
Se eu pudesse resumir este momento de pesar nos olhos desesperançosos, eu diria duas palavras que simbolizam muito: recomeçar e mudar.
O mais bonito nessas duas energias é ver que ninguém soltou a mão de ninguém, e para ajudar no recomeço e em todas as mudanças que se farão necessárias uma legião de voluntários se deslocou para ajudar, dando a esperança que tantos precisam para acreditar que recomeçar e mudar é apenas mais um capítulo dessa história, que sim, vai ter um final diferente, mas será ainda mais bonito!
Cherrine Cardoso é Personal Yôga Lifestyle e autora dos livros A incrível arte de desapegar e Reinvente-se