No início, ela queria ser poeta, e apesar de ter ganho diversos prêmios com a poesia, o apurado senso crítico fez com que considerasse que esse não era o melhor caminho a seguir. Sem deixar de lado o palco da Literatura, Cintia Moscovich se encontrou na prosa, incentivada pelo professor, mentor e que se tornou amigo inestimável, o também escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. Conquistou uma das cadeiras da Academia Rio-Grandense de Letras, depois de uma longa travessia, com muitas encruzilhadas.
Desde pequena conviveu com a arte literária. Vivia em uma casa de leitores, com ofertas da poesia de Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Manoel Bandeira e Fernando Pessoa. O pai fazia questão que os filhos lessem e, para isso, mantinha uma bela biblioteca, incluindo autores judaicos, como a família, e clássicos como Fiódor Dostoiévski, Gustave Flaubert, Franz Kafka, Jorge Luis Borges. Os avós contavam muitas histórias. O que naturalmente a levou à escrita.
Cursou as faculdades de Jornalismo e de Letras. Do Jornalismo, fez profissão. A Literatura, no entanto, ocupava mais espaço em seu querer. Abandonou a carreira jornalística para poder dedicar-se a ela. Mas outras escolhas foram feitas antes dessa.
O passo mais importante foi dado quando resolveu fazer a Oficina de Assis Brasil, oferecida pela PUC de Porto Alegre. O escritor gaúcho logo percebeu que havia ali uma talentosa narradora. “Já tinha 35 anos quando resolvi cursar a Oficina e encontrei um grande incentivador”, comemora. Em 1996, lançou O Reino das Cebolas. E, de lá para cá, tem feito do judaísmo e da comida abundante pano de fundo de contos e romances. Com uma literatura intimista, circula com facilidade da acidez de um comentário a uma delicada lembrança. Há sempre um toque poético, herança do desejo pela poesia. Sem esquecer de um humor sutil, que ri de si mesma.
Por Que Sou Gorda, Mamãe?, Essa Coisa Brilhante Que é a Chuva, Anotações Durante o Incêndio, Arquitetura do Arco-Íris e Duas Iguais, entre outros, deram a Cintia prêmios como o Jabuti, o Portugal Telecon e o Clarice Lispector, da Biblioteca Nacional, além do reconhecimento de seus pares ao destinarem a ela uma cadeira na Academia Rio-Grandense de Letras.
Do Jornalismo à Literatura, fez de percalços da vida, como o enfrentamento de um câncer, motivo para diferentes escritas. Sempre com coragem e delicadeza. A arte está presente em diferentes formas em sua vida: integra as Batucas (Orquestra Feminina de Bateria e Percussão), curte arte popular como o Carnaval (já participou de desfiles em Escolas de Samba do Rio de Janeiro) e, atualmente, dedica-se a ministrar Oficinas de Criação Literária, para incentivar e lapidar a escrita de novos autores, como aconteceu com ela bem lá atrás.