Já estou assinando o que não escrevi: por exemplo, um artigo sobre Leonel Brizola, que eu assinaria, se fosse o autor. E outro sobre nutrição, que não teria estofo para assinar. E muitos sobre crianças, que me levariam a processar o verdadeiro autor. Falei, aliás, com um autor mais experiente, desses pré-redes sociais, e ele me garantiu que isso é um sinal de sucesso ou, pelo menos, de alguma evolução. Ocorre que venho sendo parabenizado pelo que não fiz. E, pior ainda, criticado. Pergunto-me o que levaria alguém a surrupiar um nome para o seu próprio texto. Eta gost writer abusado!
O mesmo autor experiente sustentou que é uma insegurança. A mim parece mais uma intenção de fofoca má, somada a uma dificuldade com a autoria. Pode ser vício de psi eu dizer isto, mas faltaria a essa pessoa uma mãe que, desde sempre, lhe dissesse faça o que fizer, assume, se estiver bom, aproveita, se estiver ruim, refaz, mas não usa o nome que é o teu.
A mim, felizmente, não faltou a tal da mãe, e assim venho fazendo, acertando, errando e, às vezes – o pior –, nem um nem outro. Mas assino embaixo. Sempre, mesmo quando é texto de encomenda, e a alma, depois de consultada, aceitou fazer. E só por isso o corpo assina. Parece – o autor ainda – que leva tempo para chegar nesse estágio.
Faz sentido: ele é um velho escriba, e eu ainda estou me tornando um deles, não tão eficiente quanto o meu amigo, mas o suficiente para já ter o nome roubado.
Falando em velhice, já me sinto, às vezes, cansado. Pensei até em largar tudo, especialmente quando me vi parado na escrita e continuando, através da escrita alheia. Tentei parar, durante uma semana, na qual assinei, sem saber, o seguinte: o destino de um amor é amar. Confesso que pesquisei meus alfarrábios – o localizador do Word permite – e não localizei em nenhuma instância essa barbaridade sobre o amor. Pronto: nome roubado, outra vez.
Quase morri de ódio e só me aliviei quando decidi continuar vivendo a grandeza de ser o único autor das minhas próprias bobagens. Empresto-as a quem quiser, mas não assino embaixo do meu nome, se elas forem alheias.
Bem, ninguém é de ferro, e jamais diria não a um inédito do Shakespeare. Mãe nenhuma é perfeita, e bastaria cair um desses sobre a minha cabeça para eu assinar embaixo. Mas é o Shakespeare e, aí sim, um atenuante de peso para o plágio.