Aos 5 anos de idade, eu morava em Resende, estado do Rio de Janeiro. Naquele tempo, anos 60, lembro que íamos ao supermercado uma vez por mês. Salvo algumas exceções. Talvez porque minha mãe não dirigia e meu pai trabalhava o dia inteiro e estudava à noite.
Ir ao supermercado, aos sábados, era uma festa! Parecia que meus irmãos e eu estávamos num parque de diversões. Um carrinho era pouco, dois ou três davam conta do recado. Educados e obedientes, como tinha de ser, nada ia para dentro dos carrinhos sem a aprovação de nossos pais. Andar por alguns corredores era como estar em algum brinquedo que não agradava tanto, era como se fossem coisas de adulto e, por isso, tínhamos pressa de ir adiante.
Agora, quando chegava nas prateleiras de biscoitos, sucos, balas, chocolates, a diversão era completa. Não sabíamos nem para que lado olhar ou por onde começar. E olha que na época não havia tantas opções assim, nem iogurte tinha. Ah, mas quando chegou ao Brasil, era um item que ia para o carrinho rapidinho.
Diferente de hoje, com toda a modernidade, tecnologia e possibilidades, não havia delivery, aplicativos de entrega, nem mesmo a quantidade de restaurantes que vemos por todos os lados. A grande maioria das famílias fazia as próprias refeições e se alimentava em casa. As meninas logo cedo aprendiam a cozinhar, nem que fosse apenas o básico. E não foi diferente comigo. Minha mãe, como boa mineira, sempre gostou de estar junto ao forno e ao fogão, e quando via que a despensa estava quase vazia já começava a convocar o meu pai para a tão esperada ida ao supermercado. Oba, que chegue logo o sábado!
Ir ao supermercado, para mim, continua sendo um imenso prazer. Às vezes, faço a lista do que preciso para não me empolgar, porque, se deixar, fico por lá e nem vejo a hora passar. É incrível, por mais que eu tenha amadurecido, toda vez que vou, com certeza levo comigo a criança que um dia fui, que ainda tanto se encanta com o colorido das gomas e que continua a passear com os olhos atentos na vasta geladeira de iogurtes imaginando como será o sabor de uns e de outros. A minha criança arrisca, adora o desconhecido e novidades. Afinal, como é bom experimentar o novo, até mesmo para avaliar se é melhor ou não que tudo aquilo que já faz parte do meu cotidiano.
Celso Gutfreind
Às vezes, pode vir um verso e, como uma fagulha, acende algo em nós. Ou, em vez dele, uma imagem sem palavras, uma canção, um único acorde dela. E