Cada vez que ficamos sabendo de alguma tragédia ou acidente, seja perto ou longe de nós, começam a despontar perguntas sobre os porquês. As mais comuns estão sempre associadas aos motivos de Deus. Afinal, se ele é amoroso e justo, então por quê? Por que a dor, por que o sofrimento? Por que acontece com alguns e não com outros? Qual o sentido disso? E por aí vai.
Se houvesse como puxar uma linha direta com Ele e perguntar sobre os motivos pelos quais coisas acontecem e tantos são atingidos, talvez fossem mais compreensíveis os entendimentos e as aceitações. Mas não há como! A única coisa que há é o seguir em frente. O se recuperar daquilo que dói e pensar: “Se ainda estou aqui, é porque de fato ainda tem um motivo para isso”.
A pergunta interna que pode ser feita, então, é: “O que eu posso fazer com isso que vivi e com o que aprendi através disso?”.
Não importa muito o tipo de ocorrido. Temos aqui no Estado os episódios recentes das enchentes e de quanto tudo isso abalou a sociedade gaúcha como um todo. Não apenas os atingidos, nem somente os que conseguiram sobreviver ou aqueles que perderam tudo, todo o país sentiu e se comoveu. Foi duro ver de perto, foi triste ver de longe, mas fato é que as perguntas são sempre iguais.
Quando conseguimos trocar o “por que isso aconteceu comigo” para “isso aconteceu para mim”, tendo a achar que a forma de compreensão muda um pouco.
O com e o para nos oferecem sensações internas distintas. Quando eu questiono: por que aconteceu isso comigo?, me coloco num papel apenas de vítima, onde me sinto punido por conta das situações e acontecimentos alheios ao meu querer. Ainda que eu seja vítima, é não se vitimizar somente. Quando eu questiono: então isso aconteceu para mim?, me coloco numa posição de aprendiz. O que posso aprender com essa lição? Como posso fazer diferente? Agir? Observar? Antecipar? Evitando que coisas parecidas se repitam.
Paramos de culpar Deus ou agradecer a Deus, como se houvesse algo diferente a ser feito. Independentemente de qualquer religião ou crença, tudo acontece exatamente como tem que acontecer para um propósito maior. Ainda que não tenhamos sabedoria ou compreensão suficiente para entender no momento que propósito é esse. E talvez, como seres humanos, dificilmente o teremos.
Acidentes fatais, acidentes naturais, uma doença inesperada, uma morte súbita, uma bala perdida, dormir e não mais acordar, um avião que cai e morrem todos, ou um avião que cai e sobrevivem alguns… são tantas possibilidades que não há como acreditar num pseudocontrole. Porque de fato não temos! Não há regra certa. O que existe é o seu momento. O de morrer ou o de seguir vivendo, e quem decide isso não somos nós. Parece que a única morte meramente aceita é a da velhice, pois sabemos que segue uma ordem natural de nascer, crescer e morrer. Mas não, até isso não tem muita lógica, porque há muitos idosos que vivem além dos 100 e aqueles que mal chegaram aos 70 e falecem.
Dessa forma, uma vez não nos apegando mais aos porquês, conseguimos ter a oportunidade de evoluir e amadurecer com tudo que acontece para nós. Mesmo em meio a dor e sofrimento, que, claro, é impossível deixar de sentir, vamos ressignificando e amenizando os traumas correlacionados a eventos que nos levam a viver situações não previstas.
O que posso contribuir com esta leitura é te dizer: sofra tudo que precisar sofrer. Chore, viva seu luto, permita-se esgotar suas dores. Mas não se abandone por isso. Lembre que existe um motivo maior para você estar aqui! Sua hora não chegou, ainda. Então cada despertar é um motivo para agradecer.
Ter a chance de reencontrar pessoas que você ama. Ter a oportunidade de recomeços. Tudo é um caminho que te leva à gratidão! Não perca tempo se lamentando ou amargurado com o que não pode mudar. Encare o desafio, levando o tempo que for preciso, mas aceite a lição que a vida está dando e a oportunidade também de crescer, evoluir e até SER diferente. No fim, é tudo sobre quem SOU.
Cherrine Cardoso é autora dos livros A incrível arte de desapegar e Reinvente-se e Personal Yôga Lifestyle