Toda vez que digo que vou ligar para alguém, o meu filho, 30 anos mais jovem que eu, dispara a mesma frase: mãe, é DESELEGANTE. Segundo ele, as pessoas não querem ser interrompidas ou perturbadas por um telefonema. Pelo tanto que meu celular toca, vou acabar concordando com ele. E olha que nem da geração Z ele é. Pois é!
A palavra DESELEGANTE quando sai da sua boca, chega assim pra mim: plenamente audível e com letras garrafais. Cá entre nós, sem óculos já não leio mais. Diante da realidade do novo formato de relacionamento, via WhatsApp, Instagram e tantas outras que estão por aí, com frequência me sinto a pé e descalça. É, os tempos mudaram. E como mudaram!
Com as mudanças, muito se perde, fenece e se estabelecem novos hábitos e jeitos de viver a vida. Em mim, os questionamentos se multiplicam e permaneço atenta em busca de respostas. Como é desgastante permanecer atenta. Será que… estamos mais felizes, temos mais tempo, somos mais ágeis, mais eficazes, mais saudáveis, solidários, mais humanos…?
Meu celular toca. Viva! Fico feliz por saber que ainda existe um desavisado por aí. Corro para atender e minha empolgação desaparece ao ver o número na tela. É a VIVO. Claro, mais uma vez propondo portabilidade. Me finjo de morta. Hilário.
Cadê os amigos, a família? Viajo de volta para a minha adolescência. Fora de casa, responsabilidades, sonhos, verba restrita e a vontade de estar junto para compartilhar as novas experiências. Enfim, palavras a serem ditas a me inquietar. Lembro disso como se fosse hoje. Esperava domingo, tarifa mais barata para ligar e falar sobre os assuntos e os sentimentos acumulados até o momento. Gente, pode ligar, a tarifa hoje é diferente!
Lá se foram o telefone fixo e a agenda repleta de números imprescindíveis para a hora da saudade e do aperto. Jura pra mim que é DESELEGANTE ligar? Puxa vida, o que vou fazer com tudo isso que há em mim? Com essa vontade de ouvir vozes, eco… meu pai que adorava uma prosa, já não me atende mais. O papo dele agora é em outro plano.
É Carnaval. O filho viajou. Foi pra BH com amigos munidos de sonhos e fantasias. Meu companheiro de vida, adora o silêncio, TV. Principalmente canais esportivos e o ID. Já sei, IA. É isso AÍ. Vou acessar o Bradesco, Sephora, Natura e vou ver como utilizam chatbots de IA para conduzir experiências conversacionais com seus clientes. Quem sabe rola um papo, mais um dado.
Prepare-se IA, que a DESELEGANTE vai ligar.