Toda vez que eu venho escrever e me conectar com você, leitor, por meio desta coluna, procuro trazer algum tipo de assunto que precise ser revisitado e no qual, de alguma maneira, as palavras encontrem acesso no seu íntimo para ecoar e fazer algum sentido por aí. Recentemente eu me vi experienciando uma repetição de padrão, negativo, no caso, e do qual eu sempre tive consciência, mas não conseguia evitar, que é viver relacionamentos abusivos em nome de ser amada. Pois é! Quantos de nós aceitamos envolvimentos ruins, abusivos, tóxicos, violentos de todas as maneiras, em nome de um amor que deseja viver, mas que por conta da necessidade de ser amado ou da carência não enxerga o quão ruim é a relação em que está?
Não importa quantos anos de terapia você faça, ou quantos caminhos para o autoconhecimento você já trilhou, quando você ainda não aprendeu a lição que a vida quer te dar, ela vai te colocar de novo para viver a mesma coisa, até que sua ficha caia e você passe a tomar as rédeas das suas escolhas, evitando fazer mais do mesmo. E é duro se dar conta disso, mas necessário.
Minha infância e adolescência foram fases bem conturbadas. Sabia que estava em uma educação rígida, autoritária, violenta, mas por uma questão de padrões da época tudo parecia ser muito comum. Sei que outras amigas com a mesma idade passaram por situações similares. O que a gente não sabe, ou não sabia, é que a educação nas idades tenras precisa ser gentil e amorosa, só assim estaremos contribuindo para uma sociedade igualmente gentil.
O fio tênue que existe entre impor a firmeza na educação e não ser violento no falar ou agir é sutil. E nesse lugar da dúvida, erramos, e muito. Sei que se eu estivesse nascendo hoje, meus pais não teriam como me educar ou tratar como faziam na década de 80/90. Mas era como era. E, atualmente, em nome da liberdade do ser, da educação liberal, já não há mais a mesma rigidez nem a hierarquia parental, o que tem feito jovens sem comprometimento com nada e se importando cada vez menos com o sentir do outro.
Meus últimos relacionamentos foram ruins. Toda vez que me pego apaixonada me vejo abrindo mão daquela que sou para me moldar ao outro, a fim de não perdê-lo. Acabo negligenciando muitas das minhas vontades, percebo uma adaptação ao que o outro gosta sem frisar o que eu gosto, me envolvo rápido demais, vivo em função de acolher e cuidar mais do outro do que de mim mesma. E tudo em nome de quê? Do desejo de ser amada. Ouvi alguém aí dizendo: “Nossa, eu faço a mesma coisa!”.
Esse desejo nada mais é do que o reflexo da falta que tivemos na infância. E isso não é fácil de admitir e nem de falar, porque também sei o quanto nossos pais nos amam e oferecem o que podem. Só que esse amor muitas vezes vem com dor, e é o que repetimos quando nos envolvemos com alguém. Achamos que se não tiver a parte ruim não teremos a parte boa, afinal fomos criados assim.
Somos indivíduos cheios de crenças, falhas, medos. Sabemos do que um pai e uma mãe precisam abrir mão para cuidar dos filhos. Porém, essa responsabilidade de como educar e de que maneira demonstrar o seu amor é que fará o adulto lá na frente se conectar com outros adultos. Bom, a psicologia explica.
Cerque-se de pessoas que te admirem, te respeitem, te conheçam, te cuidem, e claro, seja esta pessoa também!
Esses parágrafos anteriores foram apenas para chegar aonde quero e que me deu gatilho para o tema que trago: rede de apoio.
Nossa rede de apoio sempre serão os nossos amigos. Sempre serão as pessoas que nos conhecem na fraqueza, na vulnerabilidade, na nossa pior versão, e mesmo assim, seguem do nosso lado. Amigos que muitas vezes nós chegamos a tratar mal, ou chegamos a fazer algo que doeu e incomodou, mas no fim, sempre perdoam. É para eles que vamos contar tudo, sem filtro. Para eles é que baixamos nossa guarda e somos ainda mais honestos e sinceros com o que estamos vivendo e sentindo.
Esta rede é o nosso chão. Quando estamos passando por algo ruim, temos a quem recorrer. Sempre! E muitos não são o seu pai, sua mãe, seus irmãos. São amigos mesmo! Que você foi cultivando, preservando, cuidando, mantendo, ao longo da sua jornada.
Amigos que não vão te julgar, ou até vão, quando virem que você está repetindo a escolha ruim novamente. Amigos que, mesmo vendo que você está caindo em uma cilada, dirão: “Vai lá, que se quebrar a cara de novo eu vou estar aqui para te dar a mão”. Pessoas que você fica anos sem ver, sem falar, sem nem lembrar da data do aniversário, mas que ao primeiro sinal da sua necessidade estarão de coração aberto para te acolher.
E diante disso, se abra. Tenha as pessoas certas para esta troca. Não apenas um profissional, ainda que isto também seja importante. Mas saiba com quem você pode desabafar e falar tudo pelo que está passando sem se sentir envergonhado. A empatia é uma linguagem de amor, e tudo o que precisamos quando estamos experienciando algo ruim é poder recorrer ao abraço amoroso de quem nos ama sem cobrar nada em troca.
Então, para fechar e concluir: mesmo que você tenha um dedo ruim para as suas escolhas pessoais (relacionamento, trabalho, decisões, etc.), cerque-se de pessoas que te admirem, te respeitem, te conheçam, te cuidem, e claro, seja esta pessoa também! Porque, no final, tudo o que importa na jornada desta vida que vivemos, nos seus altos e baixos, é essa rede de apoio! Olhe para isso AGORA e faça o seu melhor para ser um bom amigo e para ter amizades leais com as quais possa contar, perto ou longe, seja onde for. Sua rede pode valer sua sanidade e paz, muito mais do que qualquer outro tipo de relacionamento.