Eu tive por muitos anos um piercing no dente.
Um belo dia encontro uma amiga que me diz:
”Não acredito que você ainda tem piercing no dente!!!”.
Foi um chacoalhão. Ela me chamava a atenção para algo que eu nunca havia pensado, que aquela relação íntima entre o piercing e eu poderia ter um fim.
Foi bom enquanto durou, ele me emprestou estilo e uma certa ousadia por um período, mas logo passou a significar que eu estava ultrapassada. Eu tenho tatuagem desde os anos 80. E tenho com ela a mesma relação. Nunca a questionei. Ela mora lá, atrás do meu ombro, e porque não a vejo quase nunca lembro dela. Ela virou uma espécie de relógio biológico. Mostra claramente de que tempo vem a minha ousadia.
Pensar sobre isso tem sido interessante demais. É verdade que a maior parte das coisas que escolhemos para nos representar são datadas. Muitas inclusive são genéricas, seu significado diz respeito a um grupo e não a indivíduos. Quanto mais o tempo passa, mais claro fica o que as nossas escolhas representam a longo prazo.
A busca pela originalidade, pelas coisas que agregam sentido para o indivíduo de forma atemporal, deveria ser possível para todos no início da vida.
Imaginem quantas escolhas, se fôssemos dotados da visão a longo prazo, não teríamos feito de outra forma. Existe o que é eterno e o que veio passar uma chuva. Equilibrar as escolhas nos torna mais interessantes enquanto humanos.
Correr atrás da onda coletiva é possível, mas precisa estar clara a data de validade.
Com relação a piercings, tatoos, plantas na decoração, desenho de sobrancelha e a escolha de governantes existe essa questão para todos pensarem: não é preciso se agarrar a nada, vale deixar ir.
O tempo nos cobra uma atualização.